Sergio Bernardes

RESIDÊNCIA LOTA DE MACEDO SOARES

“Sérgio Bernardes, com apenas 32 anos, elabora um dos mais radicais projetos de residência moderna. Um telhado de alumínio ondulado repousa sobre uma treliça metálica e finos pilares de aço, sobrevoando e protegendo a construção, que alterna espaços abertos e fechados. Planos de vidro, tijolos e pedra organizam os espaços: numa das extremidades estava o apartamento íntimo das moradoras, com nível um pouco mais elevado que os demais. Uma longa e elegante galeria em rampa de dois trechos serve como varanda e conduz ao estar social e aos aposentos dos inúmeros e constantes hóspedes, situados na outra extremidade, de modo a garantir-lhes o máximo conforto e privacidade. Visitas que incluíam, além daqueles amigos intelectuais já citados, estrangeiros ilustres que visitavam o Brasil, como o poeta Robert Lowell, Alexander Calder, Monroe Wheeler e Aldous Huxley.

A casa, aberta para os amigos e para a natureza foi edificada ao longo de três longos anos, devido ao pioneirismo de muitos de seus materiais e o esmero dos acabamentos. As treliças, por exemplo, foram montadas no canteiro de obras a partir da dobragem de longarinas de vergalhões de aço usualmente empregados como estrutura interna das estruturas de concreto armado. Os vergalhões foram soldados em “zig-zag”, entre as compridas peças laterais. No acabamento final essas últimas foram pintadas de preto enquanto os trechos intermediários, em “v”, eram brancos.

A casa obteve o prêmio para obras de arquitetos abaixo de 40 anos na II Bienal de São Paulo, conferido por júri ilustre integrado por Alvar Aalto, Walter Gropius e Ernest Rodger. Esse não foi, contudo, o único prêmio a contemplar a casa e seus habitantes. Elizabeth Bishop foi agraciada, em 1955 com o Pulitzer de Poesia, em reconhecimento a seu livro Poems: North & South – A Cold Spring. Escrito em Samambaia, tinha entre seus poemas um dedicado à própria morada, a “Canção para a estação das chuvas” que assim terminava: “o vapor / escala a vegetação espessa / sem esforço, volta-se / e envolve ambas, /casa e rocha, / numa nuvem particular” (2).

Essa “residência-galpão”, embora ainda artesanal, foi o primeiro experimento consistente do uso de estruturas metálicas no Brasil, prenunciando um fértil caminho que seria desenvolvido por Bernardes nos anos que se seguiram. A sobriedade e economia de suas formas retas e planos abertos incorporava a paisagem e a rusticidade dos materiais locais.”

CAVALCANTI, Lauro. A importância de Sér(gio) Bernardes. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 111.00, Vitruvius, ago. 2009.

Ver também:
Fatos raros – Quando a ficção não é melhor que a realidade
Kykah Bernardes

BERNARDES, Kykah. Fatos raros. Quando a ficção não é melhor que a realidade. Drops, São Paulo, ano 14, n. 073.01, Vitruvius, out. 2013.

Local:
Petrópolis, RJ

Data do projeto:
1953

Fotos:
Kykah Bernardes, Paulo de Barros - Acervo Sergio Bernardes

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