CASA CM
Projetada como um retiro de lazer em um condomínio residencial em Paraty, Rio de Janeiro, a Casa CM foi pensada levando em consideração as visuais do terreno e integração ao paisagismo.
Recuada a partir da rua, a porção frontal dá lugar a um denso jardim. Placas retangulares em granito Branco Siena em acabamento levigado justapostas irregularmente sobre o gramado criam um desenho sinuoso que conduz os moradores ao interior. Nas laterais, diferentes espécies de philodendros e árvores de médio porte compõe o espaço assinado em parceria com Isabel Duprat.
Buscando assegurar privacidade aos moradores, a fachada da casa recebe uma empena inferior opaca e revestida em pedra Moledo. Sobre ela, o volume superior, em estrutura metálica com bandeja envelopada em aço corten acomoda uma floreira linear rebuscada por espécies vegetais de médio porte, que resguarda o interior. O acesso à residência é realizado através de portas pivotantes com chapas de cobre em tom esverdeado, resultante do processo de oxidação química do material.
Com mais de mil metros quadrados divididos em dois pavimentos, o projeto foi pensado como uma casa-varanda, e apesar da área ampla, a implantação com desenho em F, integrada ao jardim rico em texturas – naturais e dos materiais – assegura conforto ao cotidiano dos moradores.
A primeira ala, paralela a rua, é um volume maior, e concentra no térreo o hall de entrada ao centro, espaços de serviço à esquerda (sala de jantar, copa, cozinha, despensa, lavanderia, estar e dormitório de serviço), e espaços de lazer à direita (varanda, sala das crianças, home theater e uma suíte de hóspedes). No pavimento superior, destinado às áreas intimas, na primeira porção, há duas suítes (uma delas provida com duas camas e a segunda com três) e na extremidade, uma escada de serviço, enquanto na segunda porção há três suítes (uma com duas camas de solteiro e duas suítes de casal, sendo aquela da extremidade com desenho em L e varanda privativa).
Todos os dormitórios possuem fechamentos em painéis com venezianas e abertura tipo camarão em madeira cumaru protegidas pelos beirais, que trazem privacidade e ventilação natural. Também recebem folhas de vidro de piso a forro e guarda-corpo.
Na segunda ala, que corta perpendicularmente o volume principal e contínua da escada, estão a sala de estar e varanda gourmet no térreo, enquanto no pavimento superior, duas suítes, sendo a principal na extremidade: a suíte master com banheiros individuais para o casal e closet. A terceira ala, a esquerda da segunda e com apenas um pavimento, concentra a área gourmet principal que acomoda até 23 pessoas sentadas, lavabo e sala de ginástica.
Uma marquise em madeira laminada presa diretamente sobre vigas metálicas e coberta por vidro conecta estes dois últimos volumes. Essa solução permitiu que a estrutura fosse livre de pilares. Lateralmente, um conjunto de coqueiros e arbustos no paisagismo criam ritmo e perspectiva a promenade.
A piscina com raia de mais de quarenta metros lineares, foi disposta conectando-se visualmente ao lago do condomínio. Vale destacar que a varanda gourmet de menor proporção invade parcialmente a piscina, e recebe brises verticais esverdeados, em cobre oxidado, em harmonia a paleta de cores d’água e vegetação.
Nos interiores predominam os materiais naturais, assim como as fachadas e peças de mobiliário em madeira e palha que trazem o clima litorâneo, como a cadeira Atibaia de Paulo Alves, poltronas de balanço de Nanna Ditzel, poltrona Gervasoni de Paola Navone e sofás de Paola Lenti. As cortinas são em linho e tapetes em sisal, os objetos decorativos em rattan e vime.
Com estrutura de aço e fechamentos em elementos pré-fabricados, a obra teve tempo reduzido, uma vez que se tornou parcialmente um sistema de montagem; e maior qualidade das peças.
HOTEL JOSE IGNACIO
O projeto do Hotel Jose Ignacio se tornou um interessante desafio para o escritório Bernardes Arquitetura: pensar a inserção arquitetônica de um hotel onde a integração entre o construído e a paisagem natural pré-existente tivessem papel fundamental na conformação de uma “nova paisagem”. O terreno é localizado em uma região sem qualquer proximidade com a zona urbana, o que garantiu menores restrições quanto às diretrizes de implantação.
A implantação se deu respeitando as principais características naturais do terreno e os caminhos dos ventos, a exposição solar, a vegetação existente, as melhores vistas e o mínimo impacto no solo. Ao longo desse eixo, desenvolvem-se os dois níveis de circulação, de maneira a proporcionar uma prazerosa experiência de percurso através dos cheios e vazios, das zonas de sombra e insolação e da contemplação da paisagem natural.
A proposta arquitetônica segue princípios de não ortogonalidade, portanto o programa do hotel foi distribuído em oito volumes rotacionados, elevados do solo e dispostos ao longo do eixo de circulação. O volume principal acomoda as áreas comuns: recepção, restaurantes, bar e lounge, além das áreas técnicas e de serviço. Os demais acomodam dezessete suítes – com acessos pelo térreo e pelo deck suspenso com vista para o pôr do sol, ambos integrados ao paisagismo.
Os volumes são acomodados ao terreno e conectados pelo eixo principal de circulação. O hotel repousa na natureza existente e passa a integrar essa nova paisagem, que nos convida a percorrer caminhos e contemplar a singular beleza natural do seu entorno.
RESERVA FAZENDA BOA VISTA
EDIFÍCIO ANÍBAL
O Edifício Aníbal abriga as sedes de três empresas distribuídas em três pavimentos de planta livre. Térreo e cobertura são os espaços compartilhados por todos os usuários.
A fachada é composta por um conjunto de diferentes camadas que filtram luz e som. A camada exterior consiste em uma estrutura de alumínio perfurado que cobre os andares superiores de trabalho, seguida por paisagismo e, por último, janelas especiais à prova de som.
Os espaços de trabalho ocupam áreas livres de interferências estruturais – as plantas livres foram possibilitadas pelo uso de lajes nervuradas de concreto suportadas por colunas periféricas. Instalações prediais e circulações verticais estão localizadas em torno do perímetro do edifício.
A ocupação total do terreno pelo edifício trouxe o desafio de garantir a iluminação adequada para o seu interior, o que é resolvido através da biblioteca, que funciona como uma clarabóia em grande escala. As divisórias e pisos de vidro tornam a biblioteca uma espécie de prisma de iluminação, que distribui a luz do dia por todos os pavimentos ao mesmo tempo em que filtra a radiação indesejável.
Assista ao vídeo produzido pelo portal Galeria da Arquitetura.
APT MD
No projeto de reforma deste apartamento duplex em São Paulo, a equipe do escritório Bernardes Arquitetura buscou a criação de espaços amplos e integrados. A escada, de caráter escultórico, surge como o elemento de circulação vertical que conecta os pavimentos e tem sua presença revelada através do vão aberto em uma das paredes da sala. O primeiro pavimento possui piso em travertino navona, mesma pedra que reveste a escada.
O setor social é composto pela sala de estar em dois ambientes, sala de jantar e escritório. A sala de estar incorpora as antigas varandas. No limite do guarda corpo, estão dispostas as novas esquadrias e jardineiras com pequenos arbustos. O mobiliário é assinado por grandes nomes do design dinamarquês como Hans Wegner, Finn Juhl, Mogens Lassen e Jørgen Høvelskov. As telas são dos artistas brasileiros Amílcar de Castro e Portinari.
O escritório pode ser revelado através de portas pivotantes que permitem sua integração ao espaço social. A estante de madeira nogueira é desenho do Bernardes Arquitetura e evidencia o pé direito duplo deste ambiente. Já a sala de jantar apresenta mesa para 16 lugares – por Bernardes Arquitetura; cadeiras por Hans Wegner; e luminária da holandesa Quasar.
No segundo andar, além da suíte máster, três outras suítes compõe o setor íntimo. Este pavimento possui piso em réguas de madeira canela preta em tamanhos variados. A suíte máster possui a particularidade de ter vistas para o escritório devido ao pé direito duplo do mesmo. A varanda/jardim foi incorporada à suíte e agora abriga o banco em corian desenhado pelo escritório.
Predomina neste projeto, uma paleta de cores suaves que ressalta o desenho de peças especialmente selecionadas em antiquários de São Paulo e Nova York. Ao eliminar a excessiva compartimentação, o projeto atribui fluidez espacial ao apartamento através da integração de ambientes, tanto fisicamente quanto visualmente.