CAPELA JOÁ

O desejo de “síntese” norteou a concepção do projeto, que nasce da vontade de permitir ao visitante alcançar um espaço antes inacessível. Em meio às copas das árvores, a experiência de contato com a natureza é intensificada. A espacialidade da Capela surge da articulação entre os elementos estruturais da plataforma que se projeta em direção ao mar.
O deque triangular é estruturado por vigas metálicas apoiadas no nível de acesso e no pilar que nasce no nível mais baixo do terreno. Sobre essa estrutura apoiam-se pórticos de madeira laminada que crescem em altura na medida em que a planta triangular avança. Do interior da Capela, é possível perceber a floresta nos intervalos da sequência ritmada de pórticos. Panos de vidro revestem a estrutura de madeira protegendo-a dos efeitos climáticos ao mesmo tempo em que refletem as árvores. O pilar metálico que sustenta um dos vértices da plataforma transforma-se na cruz que surge emoldurada junto à paisagem.
O processo sistematizado de montagem das peças estruturais possibilitou o cumprimento do curto prazo estipulado pelo cliente.
A Capela Joá é um templo cuja simplicidade perpassa sua materialidade e soluções construtivas. A síntese é alcançada na medida em que os elementos estruturais adquirem, sob outra ótica, funções plásticas e simbólicas.

APT DOIS IRMÃOS

Nessa cobertura em Ipanema, debruçada sobre o mar, o partido desejado foi o de proporcionar um horizonte total de onde se pudesse avistar a pedra do Arpoador, o Morro Dois Irmãos e a Lagoa Rodrigo de Freitas. As paredes foram substituídas por largos e modulares panos de vidro, nas duas frentes de rua que o edifício ocupa no quarteirão, que transformam o ambiente numa generosa varanda que integra o interior da residência à beleza da natureza do entorno.

A paisagem que invade a sala de estar/varanda é valorizada pelos revestimentos cuidadosamente escolhidos. O piso único em granito bruto, tom de areia, os tecidos em tons neutros e as obras de arte, compõem esse espaço projetado para atender a um pai e seu filho pré-adolescente. Apenas a área íntima do apartamento que corresponde às suítes de ambos, cozinha e dependências ficam protegidas por painéis de madeira que escondem todas as portas formando um módulo de 8×24 metros.

A varanda que integra o interior ao exterior pode ser protegida do sol através de persianas metálicas e um toldo retrátil, sem perder a permeabilidade dos ambientes. Voltada para o poente, a piscina com uma raia de 25 metros possui quatro deques deslizantes que se movem de um lado a outro, permitindo a ampliação das salas e promovendo uma continuidade visual, enquanto o jardim vertical acompanha a piscina unindo os ambientes íntimo e social.

APT JARDINS

O Apartamento Jardins, localizado no bairro de mesmo nome, e com 750 metros quadrados, foi desenvolvido de maneira muito próxima aos clientes – colecionadores de arte –, especialmente para acomodar o acervo pessoal, mas com o tom cosmopolita da cidade e indo na contramão dos espaços assépticos de uma galeria de arte.

Para acomodar as peças de arte com certo intimismo e sobriedade, o projeto recebeu piso de madeira de demolição em canela preta e paredes em painéis modular revestidos em linho off white, que ora mimetiza as portas de acesso aos diferentes espaços, ora os sistemas de áudio e dispositivos da automação. O tecido foi escolhido após uma ampla pesquisa da equipe de interiores para que a trama não comprometesse a qualidade de propagação acústica.

Superando o hall de entrada, uma instalação do escultor brasileiro Tunga, presa sobre o forro, recepciona os moradores e visitantes, com um vazio adjacente, permitindo que seja apreciada pelo espectador sem interferências visuais. No painel lateral da porta de entrada, uma pintura de Basquiat. Ao fundo, uma escultura de grandes dimensões do artista visual Henrique Oliveira conduz ao estar.

Na sala de estar, integrada aos demais espaços do living, se destaca 12 painéis da artista Adriana Varejão acima do sofá. O mobiliário foi escolhido junto aos clientes com uma curadoria de peças de design dinamarquês das décadas de 1930 e 1960 garimpadas em antiquários de Nova York. Em harmonia, outras contemporâneas, a exemplo da mesa de centro em madeira bruta do designer brasileiro Hugo França, e peças desenhadas pela equipe da Bernardes Arquitetura. A cor aparece na tapeçaria e obras de arte, protagonistas do espaço.

Home theater e escritório também são integrados no espaço, e a sala de jantar recebe duas mesas especialmente desenhadas pela Bernardes, cujas estruturas de apoio contêm pequenas bibliotecas, e podem ser unidas. No escritório, destaque para a escultura reflexiva do artista plástico indo-britânico Anish Kapoor sobre a parede e outra de vidro disposta sobre o piso, do brasileiro Nuno Ramos.

Armários e paredes com acabamento em chapas de inox escovado conferem certa austeridade a cozinha. Ao centro, uma bancada com assentos acoplados ganha destaque.

O apartamento ainda é provido de um corredor de 17 metros com acesso aos demais espaços (academia e suíte master) que faz ás vezes de galeria. Também foi criada uma sala especial usada como acervo à parte da coleção dos clientes. Vale destacar que um sistema de trilhos eletrificados e spots direcionáveis com lâmpadas especiais foram instalados por todo o apartamento, de maneira que a iluminação não danifique as obras e caso sejam trocadas, o projeto luminotécnico possa ser adaptado com facilidade, como em um museu.

CASA JCA

A Casa JCA é uma residência de veraneio na Bahia, que também seria utilizada com certa frequência durante as outras épocas do ano. Uma casa para se percorrer descalço, com uma organização espacial contemporânea sem perder a essência regional.

A casa é desenvolvida sobre um grande tablado de madeira cumaru elevado do solo. Sobre ele, dois volumes independentes recebem parte do programa: no bloco de menores dimensões estão localizados suíte master, cozinha, despensa e lavabo; o maior bloco abriga cinco suítes. Uma grande cobertura feita em duas águas e de projeção retangular unifica os volumes e cria novos espaços com grandes pés-direitos que dão lugar às salas de estar e jantar além das galerias de circulação. No subsolo estão locados demais ambientes de serviço e uma sala íntima com home theater. O grande deck em madeira conecta a casa à piscina e ao anexo de lazer e convivência localizado na outra extremidade do terreno.

A casa acontece em apenas um pavimento evitando maior interferência na paisagem. O grande tablado de madeira cumarú solta a casa do terreno, o que contribui para a diminuição dos efeitos da umidade. O projeto conta ainda com sistemas de ventilação cruzada devido à amplitude dos espaços e das aberturas.
Priorizamos a integração entre exterior e interior através de decisões projetuais tais como: continuidade do piso do exterior para o interior; permeabilidade dos fechamentos – elemento vazado ao estilo de um cobogó de madeira ao longo da fachada de toda galeria de circulação que tem a função de filtrar a iluminação solar ao mesmo tempo em que gera privacidade e permite a ventilação cruzada; esquadrias com venezianas nos quartos; planos de vidro garantindo transparência e possibilidades de aberturas totais na área comum; criação de jardins internos nos acessos às suítes.

Por outro lado, soluções contemporâneas evocam ambiências e imaginários regionais e tradicionais: o telhado em duas águas com telhas de barro em contraste com a arrojada estrutura de madeira; os volumes dos blocos independentes da cobertura e espaços livres resultantes conformam-se nas áreas comuns com relação direta com o exterior valorizando a espacialidade da varanda, ou com relação indireta como é o caso da galeria de circulação, protegida por uma parede de cobogó (nesse caso reinterpretado por meio de uma trama de madeira).

LOJA CELSO KAMURA

Neste projeto, originalmente de formas poligonais angulosas, sem conexão óbvia com os dois pavimentos, nosso desafio inicial foi estabelecer um acesso convidativo ao subsolo onde se desenvolveriam as principais atividades do salão. Desta forma a escada passou a ser um elemento arquitetônico importante e determinante dos outros espaços, buscando um paralelismo sutil, ela se dá generosa e ao se estreitar desperta a curiosidade. O ponto de fuga que gerou esse pensamento nos fez ir além, reforçando-o com um forro inclinado de réguas de madeira imprimindo um ritmo ao se percorrer o ambiente.

Na chegada, o brise em madeira e o banco em corian amarelo definem com personalidade o espaço e, logo ao fundo, as luminárias de cobre e as cadeiras de couro esquentam o espaço masculino.

Ao chegar ao subsolo vislumbramos todo o salão de um patamar intermediário, com uma nova dimensão do pé-direito duplo. Novamente nos sentimos convidados a descer por uma escada de pisos largos, quase uma arquibancada. Circundando o perímetro estão as bancadas de corte e ao centro uma grande árvore que, de forma lúdica, nos deixa aconchegados. Não podemos deixar de mencionar a contribuição da luz que simula claraboias naturais. Uma vez definido o conceito fomos buscar materiais simples como o piso monolítico de resina, a madeira e o vidro. Como contraponto, os mobiliários da recepção e da espera tiveram as linhas retas substituídas por curvas de formas orgânicas e com toque suave.

INSTITUTO MOREIRA SALLES

Finalista do Concurso de Arquitetura para a sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo, SP.