CASA JSL

Implantada em um condomínio residencial em Paraty, no Rio de Janeiro, a poucos metros de distância da praia, a Casa JSL foi pensada a partir da ideia de conexão – visual, privilegiando a vista ao mar; e dos espaços de estar e lazer.

Ao chegar pela rua, o visitante depara-se com o volume em aço cuidadosamente disposto sobre o paisagismo com espécies tropicais. Na lateral esquerda, um pergolado triangular, engenhosamente criado a partir da extensão das vigas de aço resguarda a garagem entre o jardim.

Entrando na residência, uma área rebaixada com altura tradicional de um pé direito é posteriormente superada pelo pé direito duplo, a partir da malha estrutural em aço.

No perímetro de toda a residência, extensores metálicos são presos diretamente sobre as vigas, onde brises fixos do mesmo material são instalados, perpendiculares na face dos dormitórios e área gourmet. Estes recebem pintura cinza grafite, seguindo o mesmo acabamento do esqueleto metálico e caixilhos. Essa solução, por sua vez, viabiliza o conforto térmico a partir do sombreamento da área social, que somado a generosa abertura da caixilharia, contribui para ventilação natural abundante.

O living recebe ripas de madeira sobre as paredes que também recobrem o forro da área rebaixada do hall e sala de jantar, trazendo conforto. No mesmo padrão, portas de acesso à sala de TV e áreas de serviço são mimetizadas. No pé direito duplo da sala de estar, um grande vidro fixo junto ao brise de malha quadriculada permite ver a vegetação, protegendo da exposição ao sol, como um véu.

No mobiliário e acessórios, texturas tipicamente praianas são reimaginadas numa visão contemporânea. Sofá e poltronas recebem acabamento em linho, enquanto o tapete é de sisal. Ao fundo da sala de jantar, um biombo em corda de marinheiro.

Hall de entrada, salas de estar e de jantar transformam-se em varandas quando suas esquadrias estão abertas para a área gourmet e piscina. Integrando os espaços, os mesmos materiais do interior são utilizados no piso externo e parede da churrasqueira. Na cobertura, um toldo com abertura eletrônica pode ser aberto ou fechado.

Ao centro do living, a escada metálica conecta o térreo as áreas privadas. Acima do hall, o home office permite certa permeabilidade visual direta à praia a partir de aletas metálicas brancas. Já nos dormitórios, esquadrias de correr de piso a teto podem ser completamente abertas, que junto ao guarda-corpo de vidro incolor e brises, trazem a brisa e o azul do horizonte ao interior. A roupa de cama segue um padrão de cores e texturas praianas, como o azul marinho, ocre e padrão listrado náutico, e a cabeceira recebe a mesma madeira utilizada no pavimento térreo.

CASA FG

A Casa FG foi projetada em um condomínio a cerca de uma hora e meia da capital paulistana para um casal e seus filhos e surge da fragmentação do programa através de quatro volumes trapezoidais de concreto pigmentado, dispostos num harmonioso arranjo sobre o terreno de 12.152 metros quadrados e unidos por um mesmo eixo linear.

A articulação entre os diferentes blocos setoriza o programa da residência de forma que os três volumes frontais resguardam as áreas social e íntima, enquanto o volume da porção traseira concentra os espaços de serviço.

Tirando proveito da inclinação do perfil natural do terreno na porção norte, no bloco inferior localizamos a sala de TV e sauna, que encaixa o programa e assim o disfarça sem que a percepção de casa térrea seja perdida. Recuado em relação ao pavimento superior, recebe fechamentos em panos de vidro de piso a teto, que sombreado, parece desaparecer, criando a sensação de o volume principal flutuar. O restante do programa fica na cota mais alta.

No exterior, degraus gramados conduzem o acesso ao nível superior, e nas extremidades, o paisagismo assinado em parceria com Paisagismo d’ Orey Brasil recebe arbustos de philodendron. Já no nível principal, o deck e piscina com borda infinita tem acabamento em basalto. Como ombrelones naturais, duas árvores geram sombra para as espreguiçadeiras.

Nesta residência, os limites visuais e físicos entre interior e exterior são diluídos através de estratégias projetuais de integração. O mesmo material do deck (basalto) e forro da varanda (modular de madeira ripada) são utilizados no living e salas de estar, de jantar e área gourmet transformam-se em varanda quando suas esquadrias estão totalmente abertas para a piscina e jardim.

No bloco social, do ponto de vista material, a paleta em tons naturais traz conforto e bem-estar, onde se destaca as empenas de concreto pigmentado em tom avermelhado, madeira no forro e painéis, e placas de basalto no piso e volume da lareira.

No mobiliário, prevalece a mistura de peças (existentes da família, novas de designers brasileiros, peças mineiras, e de madeira maciça), buscando a simplicidade despojada de uma casa de campo. Os tecidos das poltronas e tapetes seguem uma paleta de cores em harmonia com as superfícies da arquitetura. Vale destacar que parte do mobiliário é integrado a arquitetura, como a lareira (em basalto e pedra sabão) e aparador da sala de jantar (em mármore).

A área gourmet serve de anteparo à sala de jantar e piscina, podendo ser integrada individualmente a cada um dos espaços. Os painéis de madeira de correr permitem ser abertos à sala de jantar, ou completamente fechados e abrindo a caixilharia de vidro ao exterior. Para assegurar ventilação e iluminação natural, elementos vazados de concreto foram utilizados como fechamento na empena lateral.

Na lateral direita do volume social, atrás do estar, posicionamos o acesso a uma pequena sala de TV privativa e suíte master. Do lado oposto, uma escada de acesso ao nível inferior é banhada por iluminação zenital. No dormitório, sobre a bancada de trabalho, um rasgo linear na empena de concreto pontua visada estratégica ao jardim.

Com desenho especial pela Bernardes Arquitetura, oito brises verticais de madeira posicionados transversalmente na varanda dos quartos sombreiam o interior ao mesmo tempo em que direciona a vista ao horizonte. Presos a estrutura destes, bancos revestidos com a mesma madeira e apoiados sobre um único pilarete fazem o papel de guarda-corpo.

No segundo bloco, a sudoeste, está a cozinha, lavanderia e três suítes de serviço. Na ala íntima, estão oito suítes, sendo duas delas suítes extras, além de duas salas íntimas, posicionados nos dois blocos da porção sudeste.

Nesta residência, a linearidade do corredor transforma-se em uma galeria que atravessa a sucessão de volumes, com um conjunto de rasgos estrategicamente dispostos, ora nos planos verticais (paredes), ora horizontal (laje), e que emolduram a vista externa. Em contrapartida, permitem que a luz preencha o espaço, num jogo de claros e escuros.

MUSEU POWERHOUSE PARRAMATTA

A Bernardes Arquitetura participou do concurso internacional para o novo Museu de Artes Aplicadas e Ciências de Sydney, Austrália, junto com os escritórios Scale Architecture, Agência TPBA e Burle Marx. Nossa equipe foi uma das seis finalistas, tendo competido com grandes escritórios do mundo todo.

O novo Museu surge de um grande gesto urbano. Ao colocar seus maiores espaços de exposição no térreo, em volumes separados, o museu cria um espaço público icônico no coração do quarteirão. O edifício possui um balanço de 22 metros que chega ao rio Parramatta e cria um telhado em escala urbana com 28 metros de altura, criando um grande espaço público coberto.

Este vazio cívico ao ar livre é capaz de sediar eventos de grande escala, transformando o Powerhouse Parramatta em uma grande praça pública. Suas bordas são definidas por elementos de construção em escala humana refinados e agregam vibração e vida ao gesto urbano. Os degraus à beira do rio conectam esse espaço ao rio, gerando um lugar natural para se sentar e se reunir.

A fachada permeável compreende um sistema de persianas verticais, delicadamente padronizadas e com tons variados, proporcionando uma pele expressiva, legível tanto da escala urbana quanto da arquitetônica. Operando com um sistema de ventilação mista, a fachada permite que as rotas de circulação possuam ventilação natural.

EDIFÍCIO URCA

Localizado em um terreno de desenho pentagonal irregular na Urca, bairro predominantemente residencial na cidade do Rio de Janeiro e popularmente conhecido pelo complexo natural dos morros do Pão de Açúcar e outro de mesmo nome do bairro, este edifício de nove apartamentos é proposto a partir de térreo, quatro pavimentos e cobertura distribuídos em 2.700 metros quadrados.

Buscando o melhor aproveitamento de áreas, a proposta arquitetônica tomou partido das taxas – de ocupação, gabarito e recuos – exigidas pela prefeitura, criando um offset do perímetro do terreno ao desenho da implantação.  A partir disso, foram definidas a setorização de cada uma das células habitacionais por piso, senda a primeira com as zonas de estar e íntima a leste; e a segunda com o estar a leste a dormitórios a oeste, priorizando o sol do fim da tarde.

Com a dimensão reduzida do lote e inexistência de pavimento subsolo para acomodar o estacionamento, o núcleo central do térreo segue o mesmo perímetro da implantação, mas recuado, e seus vértices são diluídos em curvas. Por sua vez, estes recuos oportunizam balanços estruturais e apenas dois pilares frontais são visíveis a partir da calçada, enquanto os demais são mimetizados entre as paredes do interior. Essa solução somada às áreas livres decorrentes dos recuos do edifício sobre o terreno gera espaço para 17 vagas de veículos.  Os beirais também protegem os visitantes das intempéries.

Portaria, zeladoria, núcleos de circulação vertical, depósitos (predial, pessoal e de lixo) e área técnica são organizados no volume trapezoidal e o acesso destes dois últimos é realizado pelo exterior para melhor aproveitamento do espaço.

Cada um dos quatro pavimentos-tipo tem duas unidades residenciais. Com fachada principal voltada a face sudeste, eles dividem a mesma, com planta em L respectivamente, onde a zona social de ambos e suítes de solteiro da primeira unidade recebem insolação durante a maior parte da manhã, e suíte de casal voltado a oeste pela tarde, bem como os demais dormitórios da segunda unidade.

Cada apartamento possui uma varanda de dez metros de extensão. Em planta, a porção frontal tem desenho espelhado, acomodando sala de estar e de jantar, cozinha, área de serviço e gourmet. Já na porção traseira, decorrente da irregularidade do lote, há três suítes – master e duas de solteiro –, e em cada unidade, uma tem varanda privativa. Privilegiando as vistas, uma das laterais é voltada ao Morro do Pão de Açúcar; e a outra, para a baia de Botafogo e o Morro do Corcovado.

Coroando o edifício, a cobertura, de mesmo perímetro dos demais pavimentos possui layout diferente e a laje da varanda é recuada na porção frontal e laterais, gerando solários e certa leveza visual quando vista a partir da rua. Salas de estar e jantar são posicionadas na área central e integradas ao lazer e espaço de refeições externo dispostos nas extremidades, através da varanda em C. Na área leste, fica a cozinha, lavanderia, dormitório e banheiro de serviço. Na zona transversal a oeste, quatro suítes, sendo duas delas com cama de casal e as demais com duas camas de solteira cada. O maior dormitório é equipado com closet e varanda.

Procuramos adotar uma abordagem silenciosa ao projeto e como uma das estratégias, no perímetro de todo o edifício, floreiras conferem verde à fachada, que crescerá com o passar do tempo junto aos brises verticais em madeira ripada que faz o papel de véu, protegendo dos raios solares diretos, ao passo em que também contribui para a identidade do projeto.

ESCRITÓRIO VC

Para conversão de uma casa de valor histórico proveniente de um conjunto residencial geminado em escritório, a Bernardes Arquitetura buscou soluções que maximizassem a iluminação natural e setorização dos espaços.

No salão frontal, concentramos uma singela recepção composta por um pequeno balcão, e sobre este mesmo espaço, um volume conformado a partir de painéis especiais de vidro curvo que configuram a sala de reunião principal, sem que os necessitem transitar pelos demais espaços. As folhas de vidro são presas diretamente sobre a estrutura metálica no forro, livre de caixilhos e valorizando o desenho orgânico. No interior, a parede principal tem acabamento em pedra original da casa, e no forro, foram instaladas ripas de madeira. Para maior comodidade durante as reuniões, uma cortina perimetral permite ser fechada.

Preservando a memória da arquitetura original, a pedra também está presente na parede oposta e optou-se por mantê-la, recebendo iluminação indireta através do sistema wall washing, que simula a iluminação zenital, com projeto luminotécnico desenvolvido em parceria com o LD Studio.

Para maior aproveitamento da iluminação e ventilação natural nos espaços de trabalho, o vão central original da residência foi convertido em pátio ora para refeições, ora como sala de reunião independente. Na porção traseira, são dispostos os espaços de serviço no pavimento térreo e uma pequena sala no pavimento superior, respectivamente. Estas são protegidas por painéis de ripado rustico de madeira que fazem o papel de brises soleil, auxiliando na filtragem da luz e privacidade.

Trazendo o clima do bairro arborizado ao projeto, além dos brises em matéria-prima natural, o pátio central recebe um jardim vertical com espécies tropicais e placas de cimento queimado sobre o piso.

No primeiro pavimento, a sala principal é equipada com postos de trabalho variados e bancada com desenho sinuoso. Criando uma unidade estética, a mesma madeira do forro da sala de reuniões do térreo é aplicada nesta, e o piso recebe réguas de madeira. Na iluminação, pendentes lineares.

BARCO PHENIX

Pensado como uma habitação de lazer nômade, com 33 metros de comprimento (98 pés) e quatro níveis, o Barco Phenix teve seu projeto de interiores realizado pela Bernardes Arquitetura em parceria com Manoel Chaves, responsável pela arquitetura naval.

No convés inferior com acesso pela popa (onde está localizada a casa de máquinas) ficam localizadas quatro suítes na zona central – duas delas com cama de casal e as outras duas com três camas de solteiro cada uma, sendo uma beliche –, e duas cabines de marinheiro na zona frontal. Os dormitórios de solteiro recebem acabamento em folhas de madeira no mobiliário e paredes, trazendo maior conforto ao espaço, além de luminárias de leitura individuais e roupas de camas com tecido azul celeste que alude à tonalidade do mar.

No convés principal estão concentradas as áreas de lazer. Na popa fica a varanda que é transformada em área de refeições ao receber uma mesa de até oito lugares, e um sofá revestido em tecido para exteriores, com maior durabilidade ao clima marítimo. No interior, a área central recebe o mesmo deque do exterior e folhas de madeira sobre as paredes, interruptores e mobiliário fixo. Nas laterais, dois sofás são responsáveis pela setorização do espaço em estar e jantar, de maneira que este segundo funciona como um “canto alemão”. Os sofás recebem estofamento em tecido cinza e almofadas em tons azul marinho, como as cadeiras do exterior.

A integração da cozinha a érea de jantar é realizada por meio de uma abertura lateral com acesso direto ao balcão principal, como área de apoio e passa-pratos. Com layout configurado em L acompanhando o desenho da circulação vertical, o espaço é equipado com modernos eletrodomésticos especialmente desenhados para embarcações. Os puxadores dos armários tem o sistema de cavas, ficando ocultos e poupando espaço. Aos fundos, uma pequena despensa.

Na zona frontal, fica a suíte máster, com closet e interiores revestidos em madeira com amplas aberturas. Sobre o sofá lateral, as gavetas ampliam as áreas de armazenamento, e rodapé com iluminação de efeito, com projeto luminotécnico assinado pela Lightworks.

Com vista elevada, o convés passadiço recebe a sala de TV e uma nova varanda, com puffs, mesa de refeições que acomoda até 10 pessoas e bancada. Na proa, há a cabine do comandante com dois postos de serviço. Enquanto isso, o último convés é responsável por concentrar um solário.